quinta-feira, abril 19, 2007

Gostar de personagens


Procurei fotografias para ilustrar este post sobre um filme turco que está em cartaz, mas, por alguma razão, nenhuma me parece fazer-lhe justiça. Climas, de Nuri Bilge Ceylan, é um filme quase mudo, ou pelo menos as palavras não exprimem o mais importante nos diálogos do filme. Talvez este excerto - mesmo sem legendas e por não ter legendas - sirva para ficar com uma ideia. Nuri Bilge Ceylan, além de realizador, é argumentista, director de fotografia e protagonista; e é ainda, na vida «real», casado com a actriz que no filme faz de sua namorada, de quem ele se separa.

Um olhar pelas críticas reunidas no rotten tomatoes diz-nos coisas interessantes. Em primeiro lugar, a generalidade dos críticos só tem adjectivos duros para caracterizar o protagonista, Isa: é cínico, é sádico, é um falhado, um manipulador frio, um indivíduo sem carácter. Isto é pelo menos curioso, se se reparar no facto de que Isa é representado pelo autor do filme, e que há mais de uma coincidência biográfica entre os dois. Outra coisa interessante é que se nota que quem gostou das personagens (quer dizer: gostou delas, como quem gosta de pessoas concretas) gostou do filme; e quem não gostou das personagens não gostou do filme. Um crítico diz mesmo que o principal problema é que o espectador não pode criar empatia com aquelas personagens, e por isso não se interessa nem deseja que elas se entendam, que a história de amor «dê certo». Pelo contrário: há tempo que eu não torcia tanto para que uma história de amor desse certo. Extraordinários actores e fotografia. Gostei muito do filme.

Sugiro esta crítica.

(…) I love the way Ceylan refuses to ennoble Isa, just as I love the way Ceylan uses the familiar notion of a character regarding herself or himself in a mirror, to such different ends. (…) The way Ceylan’s camera holds steady on his actress-wife’s face, as it undergoes a series of fleeting climate shifts, you’re getting what you get in a great Chekhov tale: an entire life story in a glance. (…)

Ou esta.

(…) In about 15 brilliant minutes, the director conjures shifting perspectives and an unstable interplay between states of mind: sadness, affection, fear, revulsion, contempt, acceptance, remorse. These are microclimates. (…) Climates is Ceylan’s second superb, occasionally comic , relationship movie. (…) Ceylan composes a visual syntax to convey isolation and its temporary dissolution. His m.o. [mode of operation] is stillness. (…)