sexta-feira, maio 25, 2007

Assuntos judaicos

A má-língua habitual sugere que Esther Mucznick seria agente da Mossad. Quem diz isso não sabe o que está a dizer. Esther Mucznick é investigadora em assuntos judaicos. O que a Mossad investiga são os assuntos dos outros.

Trabalho não-remunerado

No domingo, das onze da manhã ao meio-dia, começa no Rádio Clube Português um novo programa de debates coordenado por Nuno Costa Santos. A matéria é sempre um exercício de História virtual: e se isto ou aquilo não tivesse acontecido? Na primeira emissão, este domingo, Esther Mucznick e eu debateremos o tema: «E se a pequena Maddie não tivesse desaparecido?»
Na ocasião, Mucznick acusar-me-á de não sentir suficientemente a dor pelo desaparecimento de Madeleine McCann e de me identificar com o ponto de vista dos raptores. A discussão tornar-se-á azeda, e o que tudo isto faz pensar é como as pessoas são mesquinhas, incapazes de dar as mãos e ultrapassar as suas pequenas quezílias, mesmo quando acontecem coisas que deviam tocar-nos a todos por igual, como o desaparecimento da pequena Maddie.

O Rádio Clube Português tem cobertura nacional. Em Lisboa, pode ser sintonizado em 104.3 ou ouvido directamente online em http://radioclube.clix.pt/.

quarta-feira, maio 23, 2007

Pequeno manifesto sobre Lisboa

Detesto a Roseta! Detesto o Alegre! Detesto os «cidadãos»!

[Post, em boa verdade, roubado a uma não-blogger.]

terça-feira, maio 22, 2007

A disposição do espírito

Dizia Oakeshott que o conservadorismo é em primeiro lugar uma disposição do espírito. (Quer dizer: dizia mais ou menos isto. Mas sinto-me demasiado conservador para ir agora verificar a citação.) É por isso mesmo que ultimamente comecei a pensar em talvez votar no candidato comunista para a Câmara de Lisboa.

sexta-feira, maio 18, 2007

Dores de simpatia



Tenerife: Playa de las Américas, 1993

Através do livro que reúne as crónicas de João Pereira Coutinho na Folha de São Paulo (que foi distribuído com a revista Sábado na semana passada), chego a um conjunto de fotografias do inglês Martin Parr, organizadas sob o título genérico Bored Couples. O aborrecimento, o tédio, dizem-me, é o grande assassino do amor. Digo «dizem-me» porque falam assim todas as pessoas que sabem do assunto, e eu, embora tenha participado já de mais de uma mão-cheia de parelhas, sempre vi doenças mais fulminantes do que o tédio destruirem tudo. Sob essa vasta palavra do tédio, nestas fotos, a primeira coisa que me salta à vista é a violência contida. Aliás, esta violência é contida porque não se dirige principalmente ao outro. Vejamos o casal velho de Tenerife: sabemos que eles estão aborrecidos sem sequer lhes vermos as caras. Talvez por isso esta seja talvez a minha foto preferida. O que é aborrecido na foto? As roupas, o cenário? Sem dúvida que as roupas pobres e a paisagem árida não ajudam; mas o que está aborrecido aqui é mesmo o casal. Sobretudo ele. Naquele pescoço meio voltado para o outro lado – de todos os lados possíveis, de todos os lados igualmente desinteressantes – o homem voltou-se para o outro lado; aliás, chegou-se três passos à frente da mulher, nas suas pernas finas, com fracas forças, ridículas, e inclinou o pescoço para a direita. Conquistou talvez um horizonte de liberdade, um espaço para onde pudesse olhar e pensar sobre o que lhe estava acontecendo, como se ninguém mais estivesse ali: pensar sobre a raiva, sobre as suas origens, possíveis saídas. Aborrecido? O homem está zangado, encurralado, talvez zangado também por estar zangado. Está de férias em Tenerife, veste as roupas que é suposto vestir, aquelas que ele escolheu (ou escolheram para ele) com o seu dinheiro, com a mulher que ele escolheu, e é aquilo. A mulher feita barata tonta olha na direcção dele: a tentar segurar as pontas, apanhar os cacos. Muitas das vezes uma parte está só a tentar apanhar os cacos. Ela não tem culpa.


Windsor Safari Park, 1990


Maiorca, 1993


Maiorca, 1993

O aborrecimento? Não é o aborrecimento. O homem no fast-food olha para a esquerda. Sente-se «cabreado», fodido-e-mal-pago, atraiçoado, encornado. O homem no bar, perante um monte de cervejas vazias, olha para o lado mais distante possível. Tudo nele transmite agressividade. O homem no restaurante de praia está positivamente violento; mas a luta não deve ser com a mulher, ele está de olhos fechados, talvez nem se tenha dado bem conta, se lhe tirassem outra foto, com pose, talvez estivesse a sorrir. Ela não está em posição de combate e simplesmente procura pontos de apoio algures na perspectiva. O casalinho da Finlândia que foi sair pela primeira vez num sábado à tarde está encornado: também perdido, sem referências, sem conhecer as regras, sem poder adequar-se ao jogo que lhes foi proposto como sendo desejável. Fodido.


Kotka, Finlândia, 1991

Mas é este o meu ponto: estes casais, aborrecidos, tediosos na aparência, ridículos, estão todos constrangidos numa situação que não aceitam. Não estão só aborrecidos: estão chateados, no duplo sentido que a expressão tem em português. O que os define é o seu carácter ausente: mas, se não estão aqui, estão noutro lado. Nenhuma destas pessoas aceita o destino em que vive, mesmo que não tenha encontrado a chave para sair disso. Não direi que são heróis; não direi sequer, com optimismo, que encontrarão a chave, que haverá outro lado. Não direi que são boas pessoas, respeitadoras, conformes com a dignidade dos outros e dos votos que fizeram. Direi apenas que não são conformados, nem aborrecidos, mas rebeldes, gente à procura de outra coisa, alguns deles positivamente desesperados nisso, muitos talvez sem pensarem nas coisas assim. O que me inspiram não é comiseração, mas simpatia, como afeição e como semelhança.


Maiorca, 1993


No barco chamado «do amor» (eu já estive aqui) que faz a viagem de noite entre Estocolmo e Helsínquia, 1991

Ah, e as crónicas do Coutinho? Vocês sabem: exibicionismo de nomes e na pontuação, nas fórmulas gastas e na insistência piadética. Mas - não há por que hesitar - escrita fluente e, uma vez por outra, com um achado:

«Esclarecimento: a Nova York que vocês imaginam que existe, na verdade, não existe. Só nos filmes de Woody, que praticamente sublimou a cidade --uma cidade invulgarmente desumana e agressiva-- a golpes de ternura.»

Em uma ou outra em até encontrei uma sensibilidade próxima da minha:

Aqui.

Embora não, por exemplo, no texto sobre as fotos de Parr. Alguém disse uma vez que o João Pereira Coutinho era «um rapazinho», e eu não quis aceitar, pensando que ele fosse muito pior do que isso. Mas era verdade: não se justifica tanta hostilidade, porque aquilo que João Pereira Coutinho é, é um rapazinho. Nalguns momentos, até, um bom rapazinho.

Stasi

Não gostei nada de A Vida dos Outros, a fita alemã sobre a Stasi que este ano ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro - mas muita gente gostou muito. Para uns e para outros, vale a pena ler o texto que Timothy Garton Ash escreve na New York Review of Books a propósito do filme.

Saudosos anos 90


Através do blog do Economist, chego ao video do Barbie Girl no you tube. Acho difícil que nos últimos dez anos a cultura pop tenha produzido alguma coisa melhor do que isto.

I'm a Barbie girl in the Barbie world
Life in plastic, it's fantastic
You can brush my hair, undress me everywhere
Imagination, life is your creation
- Come on Barbie, let's go party

- I'm a blonde bimbo girl in the fantasy world
Dress me up, make it tight, I'm your dollie
- You're my doll, rock'n'roll, feel the glamour in pink
Kiss me here, touch me there, hanky-panky

- You can touch, you can play
if you say I'm always yours

terça-feira, maio 15, 2007

Epifania



A capa deste livro mudou a minha vida. Lembro-me de quando a vi, há dez anos ou mais, na montra da Buchholz. Foi nessa altura que deixei a política.
Isto de fechar o blog parece-se demasiado com fazer-se de morto para poder assistir ao próprio funeral. Mas enfim: conheço casos mais literais do que o meu.

quinta-feira, maio 03, 2007

A educação pelo olhar


[Este texto sai no número de Maio do Monde Diplomatique, edição portuguesa.]

O que Sócrates diria a Woody Allen
Juan Antonio Rivera

Ed. Tenacitas, Coimbra, 2006, 340 pp.


Num capítulo sobre Há Lodo no Cais, Juan Antonio Rivera segue o tema do que chama «a educação pelo olhar»: Eva Marie Saint, depositando as expectativas que tem sobre Marlon Brando, impele-o a agir de forma moral, mesmo sem lhe dizer uma palavra. A questão que Rivera está a tratar é a das «metapreferências»: a importância da imagem que fazemos de nós mesmos, dos objectivos que nos propomos alcançar, daquilo que desejamos ser. O assunto é um dos fios condutores de um livro que se dedica sobretudo a problemas de filosofia ética: estas metapreferências devem ser inalteráveis? Se, a meio do caminho, queremos outra coisa, isso é bom ou mau? Ulisses seduzido pelas sereias; Frank Sinatra, em O homem do braço de ouro, tentado a regressar ao vício da droga e do jogo. Mas o livro também discute a rigidez excessiva das metapreferências, a incapacidade para aprender ao longo da vida, a ilusão racionalista e controladora da vida como um «projecto».

Uma educação filosófica pelo olhar é a empresa a que Juan Antonio Rivera, professor de filosofia na Universidade de Barcelona, se dedica em O que Sócrates diria a Woody Allen. Aproximadamente, cada capítulo do livro corresponde a um filme e a um tema. Dois Destinos, uma comédia romântica com Nicolas Cage, introduz a questão do acaso, das ramificações possíveis (e imprevisíveis) de um percurso: depois de ver a vida como poderia ter sido, Nicolas Cage ainda é capaz de dizer que as opções que tomou foram sempre as melhores? Sapatos Vermelhos, de Michael Powell e Emeric Pressburger, serve para discutir o problema do ponto de vista inverso: o «apetite fáustico», a tentação de querer experimentar todos os caminhos possíveis. Há temas que regressam em vários capítulos, e há capítulos que tratam de mais do que um filme. Nos casos mais felizes, uma película suscita uma variedade de sugestões, de reflexões, de incitamentos: sem ter uma tese filosófica explícita, convida a encarar o mundo sob prismas diversos. É curioso notar que fitas com uma mensagem filosófica muito explícita (como Laranja Mecânica) se prestam a um tratamento relativamente pobre; são obras menos directamente centradas na questão filosófica que mais estimulam a exploração do autor.

O livro dirige-se a uma plateia de leigos, mas não é uma iniciação à história ou aos temas da filosofia, ao estilo de O Mundo de Sofia; é uma selecção de um conjunto de problemas, escolhidos de forma relativamente arbitrária ao gosto do autor, discutidos por referência a um conjunto de filmes. O «Sócrates» e o «Woody Allen» do título são metonímias: simbolizam a filosofia e o cinema em diálogo. Sócrates e Woody Allen, concretamente, aparecem aqui em papéis relativamente secundários. Uma medida das virtudes deste livro é que dá vontade de ler outros livros. Outra, melhor ainda, é que, graças às magníficas capacidades narrativas de Juan Antonio Rivera e à sua paixão cinéfila, dá vontade de ver os filmes.

A edição portuguesa é, genericamente, cuidada, mas tem as suas bizarrias: na p.167 surge a voz do editor, em nota de rodapé, para corrigir o texto e dizer que o entendimento de Rivera sobre o conceito de virtude no cristianismo está errado. Suponho que se trate de uma instância da «tentação do bem» – tema que, de resto, o livro também discute.

terça-feira, maio 01, 2007

Astrologia sumária

Os nativos de carneiro têm muita personalidade.
Os nativos de touro sofrem de prisão de ventre.
Os nativos de gémeos não são confiáveis.
Os nativos de caranguejo fazem anos em julho.
Os nativos de leão são pessoas difíceis.
Os nativos de virgem fazem anos em setembro.
Os nativos de balança são equilibrados.
Os nativos de escorpião fazem mais mal a si mesmos do que aos outros.
Os nativos de sagitário são de novembro e dezembro.
Nativos de capricórnio nunca conheci.
Nativos de aquário são mulheres.
As nativas de peixes são muito atraentes.