
Têm-se visto muitas universidades de Verão, mas poucas com uma adequação tão perfeita entre a estação do ano e a matéria leccionada.
Um semi-blog do artista anteriormente conhecido como Ivan Nunes. teguivel@gmail.com
Marina Hands, em quem toda a gente reparou
A adaptação francesa de O Amante de Lady Chatterley, que se estreou há dias, merece a atenção que se lhe tem estado a dar. A primeira coisa que me surpreendeu foi a forma como é filmada a natureza: flores, plantas, chuva, talvez insectos e bichos (não me lembro). É uma maneira muito incomum, porque geralmente tem-se demasiado medo de ser piroso. Mas a cineasta francesa capta com muita justeza a concepção «quase panteísta» (a expressão é do Mexia, no ípsilon de sexta) presente naquele amor, a forma como o deslumbramento amoroso dos dois é intrinsecamente sexual, portanto físico, portanto em comunhão com a natureza.
A segunda coisa é a relação entre os protagonistas, amantes, a forma como evolui. O filme é longo: tem mais de duas horas e meia. Mas é longo porque é lento, e é lento porque a lentidão faz falta ao desenvolvimento da relação entre as duas personagens: uma relação em que muitas coisas se passam sem serem ditas. Imagino que fosse possível fazer avançar a «acção» mais depressa se mais coisas fossem postas em palavras; mas, para que aquele amor funcionasse, era importante que as coisas fossem sobretudo mostradas, vistas, não-ditas. Se o filme é longo, é por uma boa razão: parece-me merecedor dos muitos elogios e prémios que tem recebido.
E foi, de facto, um excelente seminário, bem organizado, com uma série de oradores de topo na matéria em questão. A conferência de Daniel Gilbert foi, muito simplesmente, a conferência mais estimulante, divertida, entretinente a que eu alguma vez assisti: uma hora como se fosse um concerto de música pop, e realmente havia qualquer coisa de pop na personagem. O livro, que encomendei na amazon, chegou hoje. Li até agora apenas o prefácio: todas as frases são divertidas, o que por outro lado, de certa maneira, até aborrece. Sinto-me incapaz de elaborar juízos críticos, literalmente subornado pelo sentido de humor.
Também já está à venda na fnac, no original, e até com uma tradução portuguesa.
[ou Let's start a magazine]
Gostei realmente muito do texto autobiográfico de Rorty, de tal forma que me apeteceu traduzi-lo. Mas seria preciso fundar uma revista para o publicar, e isso é que já dá mais trabalho.
I am sometimes told, by critics from both ends of the political spectrum, that my views are so weird as to be merely frivolous. They suspect that I will say anything to get a gasp, that I am just amusing myself by contradicting everybody else. This hurts. So I have tried, in what follows, to say something about how I got into my present position - how I got into philosophy, and then found myself unable to use philosophy for the purpose I had originally had in mind. Perhaps this bit of autobiography will make clear that, even if my views about the relation of philosophy and politics are odd, they were not adopted for frivolous reasons. [continua.]
Não foi pelos jornais, mas pelo Rui Tavares que me dei conta da morte de Richard Rorty, filósofo americano, pragmatista, aqui há dias. O Guardian traz hoje um excelente obituário.
Rorty certainly delighted in being provocative, even claiming that, despite George Orwell's famous "freedom is the freedom to say 2 + 2 = 4", the only real problem with Winston (in Nineteen Eighty-Four) coming to believe that 2 + 2 = 5 is that the belief is induced by torture, truth being irrelevant.
Também gostei muito de uma carta de um leitor que aparece no blog de Andrew Sullivan, estabelecendo afinidades entre Rorty (um social-democrata) e o conservadorismo de Oakeshott.
For most on the right, Rorty is merely a symbol of the country's slow slide into post-modernism and relativism. You avoid that stupid sticky brush, but still do not give him enough credit. Your political conclusions may have differed, but your underlying commitments are very much the same. Rorty was a progressive and a liberal, but he was your kind of liberal.
O texto do Los Angeles Times tem um tom amargo, mas inclui esta definição:
Rorty had an astonishing combination of cynicism and idealism, a quality he called «irony».
Pelo aspecto pessoal, vale a pena ler a nota de Habermas.
I received the news in an email almost exactly a year ago. As so often in recent years, Rorty voiced his resignation at the "war president" Bush, whose policies deeply aggrieved him, the patriot who had always sought to "achieve" his country. After three or four paragraphs of sarcastic analysis came the unexpected sentence: "Alas, I have come down with the same disease that killed Derrida." As if to attenuate the reader's shock, he added in jest that his daughter felt this kind of cancer must come from "reading too much Heidegger."
Que eu saiba, há dois livros de Rorty editados em Portugal. Um é A Filosofia e o espelho da natureza, o livro que, em 1979, o fez famoso. Diz Rorty que essa obra teve sucesso porque foi vista como uma espécie de sequela a A Estrutura das Revoluções Centíficas, de Thomas Kuhn (sem edição portuguesa) – e foi precisamente por essa ordem que me veio parar às mãos. Não sei se a tradução portuguesa é aceitável (não li), mas estava na semana passada à venda, com uma capa bonitinha, no pavilhão de saldos da Dom Quixote na feira do livro de Lisboa, por 5 euros. O outro livro é Contingência, Ironia e Solidariedade (1989), que faz a ligação entre as convicções de Rorty sobre a natureza do conhecimento e as suas convicções políticas, através do conceito de ironia. É também, ao mesmo tempo, uma defesa da ficção, da literatura, do cinema, e de uma concepção das Humanidades que não faz distinções entre disciplinas nem tem ambições «científicas». Infelizmente, a tradução portuguesa, da Presença, é mazinha, dá o seu trabalho a decifrar. É o género de tradução que se lê fazendo mentalmente o trabalho de tradução ao contrário: tentando descobrir o que é que o autor teria escrito no original, e que com a pata do tradutor resultou assim.
A secção de cartas do Economist vale, só por si, o preço da revista.
SIR – Your special report on cities overlooked the environmental benefits they provide (May 5th). For instance, cities are more energy efficient to live in than the countryside. I spent seven years living in London, in which I drove an average of 5,714 miles a year mainly visiting family in Norfolk. Last year, to be closer to that family, I moved to a rural village close to Norwich. Since then, I have driven 10,000 miles in just one year. Villages and rural communities lack economies of scale and are incapable of delivering the same network effects as cities. They are inherently inefficient, evidenced by their under-used post offices, bus services, schools, branch railway lines and "cottage" hospitals.
The state should no longer subsidise the private pursuit of Arcadia through expensive public services for remote and sparsely populated areas. Instead, the countryside should be considered a luxury—reserved for wildlife, unmanned agricultural vehicles and electric coaches full of gawking tourists. We should abolish villages and make everyone live in towns of at least 25,000 people.
Huw Sayer
Norwich