[ou: Como não falar de livros sem os ler?]
O pacote de dezassete livros expedidos de Deli a 10 de Fevereiro, por mar (mas o mar não é em Deli), ao preço da chuva, chegou finalmente. No geral, em bom estado. A outros, aconselho que metam os livros num pacote de cartão, e não em sacos de plástico; o resultado será melhor. Por sobre o plástico, a embalagem de pano foi cosida à mão por um funcionário dos correios de Deli, e revelou-se bastante resistente. O trajecto que estes livros terão feito dava uma boa história: é olhar para o mapa e começar a imaginar. Livros sobre a Índia (os Naipaul, dois romances do Rushdie, Dalrymple, etc.) e livros que não têm nada que ver com a Índia mas eram baratos (os três volumes de história do século XIX de Hobsbawm, um livro de Julian Barnes sobre os franceses, etc.). E livros que comprei porque a livraria era boa, surpreendente, não muito barata para padrões indianos, mas alguma coisa havia que comprar. Foi o caso deste Sven Lindqvist, autor de Exterminem todas as bestas (Caminho), numa livraria pequena e maravilhosa em Deli.
O livro - e é o primeiro caso que eu conheço assim - não tem numeração de páginas. Tem entradas, um pouco menos de quatrocentas. Da entrada nº1 remete para a 163 (ou coisa parecida), depois para a 48, e por aí adiante, até chegar ao fim, até onde não há mais sequência de entradas, ou onde se regressa à entrada nº1. Pode ler-se por esta ordem (parece que é cronológica, se vi bem), mas também se pode ler sequencialmente pela numeração (de 1 para 2 para 3, etc.), e nesse caso a organização é temática ou «associativa». E, claro, também se pode ler por outra ordem qualquer, simplesmente experimentar entradas ao acaso, folhear. Até agora, foi o que fiz.
A minha referência sobre Lindqvist era um texto muito entusiástico de Mega Ferreira sobre esse outro livro publicado na Caminho. Na minha cabeça, A History of Bombing arrumou-se junto de On the Natural History of Destruction, de Sebald (que também não li).