quarta-feira, julho 04, 2007

A ponte

A ponte é uma passagem/ pra outra margem, cantavam os Jáfumega já há muitos anos. Na Golden Gate Bridge de São Francisco (de que a velha Ponte sobre o Tejo é uma cópia), os versos ganham um sabor mais metafísico, sabendo que se trata de um dos lugares mais utilizados no mundo para tentar o suicídio. Confiando nas estatísticas, uma equipa de cinema norte-americana colocou uma câmara apontada à ponte durante um ano, e esperou que caíssem. Literalmente.
O resultado é A Ponte, um filme que está em exibição nas Amoreiras. Palavras definitivas sobre o assunto foram escritas por Luís Miguel Oliveira no Público. Cito de memória: filmar o suicídio como um dispositivo de suspense (salta, não salta) não lembrava ao diabo. E: com a propagação do you tube, A Ponte é um modelo que será repetido muitas vezes no futuro.
Em suma, trata-se com toda a certeza do filme mais asqueroso do ano. As imagens dos suicídios (reais) são intervaladas com entrevistas a familiares e amigos dos suicidas; mas entrevistas muito superficiais. Não há dados, não há informação, não há propriamente ideias nem novidades sobre o suicídio: o sumo é poder ver o acto em si. Salva-se o depoimento de um rapaz que, ao saltar da ponte, se deu conta de que não queria morrer, e conseguiu endireitar o corpo, de maneira que ficou apenas muito partido. Confrange encontrar críticos que viram inteligência ou profundidade ou substância no filme.

«"The Bridge" is too busy jumping from one mini-biography to the next and popping in artful shots of birds and clouds. The film offers no statistics, no questions and no new revelations». Aqui.
«The decision to keep the process of filming out of the film robs it of too much context.»
Aqui.