quinta-feira, janeiro 18, 2007

Dez filmes em 2006


O ano passado foi para mim um belíssimo ano em termos de cinema. Basta ir buscar as listas de 2004 e 2005 para comparar. Depois de A History of Violence, o melhor foi The Departed – Entre Inimigos, de Leonardo Di Caprio. Perdão, de Martin Scorsese. Já não havia um Scorsese tão bom desde, pelo menos, Casino (1995); e Jack Nicholson, como actor, também não é nada para deitar fora. (Aliás, gostei de Mark Wahlberg e até de Vera Farmiga.) Depois, Me and You and Everyone We Know, realizado e protagonizado por uma norte-americana de 32 anos chamada Miranda July. Vi-o em finais de Julho, de modos que para mim foi a grande surpresa do primeiro semestre. O primeiro filme a sério na rentrée foi Volver, de Almodóvar e Penélope Cruz, esta num belíssimo papel evocativo de Anna Magnani e do cinema italiano dos anos 1950. Os meus actores do ano, aliás, são Penélope e Di Caprio - que eu estava capaz de jurar, até ao ano passado, serem ambos péssimos.

Com estes quatro – History of Violence, The Departed, Me and You and Everyone We Know, Volver – fecha uma espécie de pódio.

O segundo pódio tem três filmes, com algumas afinidades de género. Primeiro A Rainha, subtil reconstituição política da semana que se seguiu à morte da Princesa Diana. Depois, Paradise Now, um filme palestiniano sobre dois bombistas suicidas que é surpreendente e não panfletário. Por fim, o português desta lista, o documentário de Sérgio Tréfaut sobre imigrantes em Lisboa. O título – Lisboetas – faz todo o sentido e o filme é talvez um dos melhores retratos da Lisboa contemporânea que eu teria para mostrar a amigos estrangeiros. Estou à espera do dvd. (O Rui Tavares escreveu sobre ele e eu transcrevi - aqui.)

A Rainha, Paradise Now e Lisboetas são três filmes políticos. Curiosamente, aquele que é menos directamente político é o documentário.

O último segmento de três são bons filmes, que cabem bem em qualquer lista de melhores do ano, mas não são óptimos como os quatro primeiros, nem surpreendentes como os três seguintes. Match Point foi tratado como um Woody Allen «sério», como o «regresso de Woody Allen» aos grandes filmes, já para não dizer que é um «regresso do velho Woody Allen», como todos os anos alguém anuncia. Mas eu não achei assim tão sério. Aliás, eu gostei na medida em que não é sério, mas pelo contrário é irónico, é divertido, joga com as expectativas e subverte-as. O filme só me conquistou totalmente a partir da cena em que Jonathan Rhys-Meyers deita o anel ao rio e ele bate na separação, ecoando a cena inicial da bola de ténis: a partir daí, não há brincadeira a que Woody Allen nos poupe. Mas não é um filme especialmente sério, só porque mete ópera e Dostoievski, nem é assim tão diferente de outros divertimentos de Woody Allen, só porque se passa em Londres. É um bom filme em qualquer dia da semana, como são Manhattan Murder Mistery (1993) ou The Curse of the Jade Scorpion (2001), mas também não é muito mais que isso.

Por fim, há o melodrama gay de Ang Lee – Brokeback Mountain –, a melhor coisa que vi no género desde As Pontes de Madison County (1995). E, a fechar (em todos os sentidos), o último Robert Altman.

Ainda deixei de fora uma mão-cheia de filmes que em qualquer ano normal poderiam entrar na lista. Caché, um filme surpreendente de Michael Haneke. Walk the Line, ao qual devo a descoberta de Johnny Cash – aliás, provavelmente a descoberta mais importante que fiz em 2006. A Lula e a Baleia. O filme sobre o pós-guerra bósnio que passou praticamente despercebido, mas não era nada mau – Grbavica. The Corpse Bride, a animação de Tim Burton, e Dans Paris.

Fica então assim:

  1. A History of Violence, de David Cronenberg
  2. The Departed, de Martin Scorsese
  3. Me and You and Everyone We Know, de Miranda July
  4. Volver, de Pedro Almodóvar
  5. A Rainha, de Stephen Frears
  6. Paradise Now, de Hany Abu-Assad
  7. Lisboetas, de Sérgio Tréfaut
  8. Match Point, de Woody Allen
  9. Brokeback Mountain, de Ang Lee
  10. A Prairie Home Companion, de Robert Altman

E ainda: Dans Paris, Caché, Grbavica - Filha da Guerra, Walk the Line, A Lula e a Baleia, The Corpse Bride.

Os piores: Charlie e a Fábrica de Chocolate, Hard Candy e Good Night and Good Luck.