Nesta hora, guardo um pensamento para os adversários lusos de Barack Obama. Não os apoiantes de McCain (de que, aliás, só consegui recensear um), mas os bushistas, da primeira à última hora, e os clintonistas; a arrogância e o desdém com que trataram o candidato democrata e os seus apoiantes merecem ser recordados. Obama e os seus seguidores foram quase sempre tratados como pouco mais do que idiotas, patetas e crédulos. Os patamares de infantilismo argumentativo atingidos neste percurso conheceram exemplos notáveis – e que vão perdurar.
Já os clintonistas, tendo apostado também em caracterizar Obama como uma espécie de pastor evangélico para massas histéricas, insistiram especialmente em assegurar que o candidato negro não teria quaisquer hipóteses de ser eleito. «Quem conhece» – e cito – «um poucochinho os EUA não duvida por um momento que o Obama jamais será Presidente. Tão certo como dois e dois serem quatro.» Obama só ganhava primárias em sistema de caucus e em estados irrelevantes.
As afirmações categóricas destes sábios continuam ao alcance de qualquer motor de busca. Talvez por isso, uns e outros, nestas últimas semanas, se tenham afadigado a garantir-nos que só o cataclismo financeiro imprevisível (pelo menos quanto à altura em que ele iria dar-se) acabou por oferecer a Obama a vitória impossível. Por mais que outros dados indiquem o oposto.
Ao contrário do que outros também sustentam, a margem de vitória de Obama não é pequena. Não foi o «prestígio» do senador McCain, ou outra coisa qualquer, que manteve a disputa até ao fim. É uma vitória larga. Quem imagina que pudesse ser coisa de uma dimensão muito mais ampla, é que não tem a mínima ideia do que são os EUA, das divisões profundas que atravessam esse país enorme e que possibilitaram, entre outras coisas, que George W. Bush tivesse, por assim dizer, ganho duas eleições seguidas.
Agora, quero ouvir o discurso do novo Presidente dos EUA e ir fazer ó-ó.