quarta-feira, abril 02, 2008

Delinqüente

Nunca pensei envolver-me numa troca de argumentos sobre o acordo ortográfico. Há pessoas muito mais qualificadas do que eu para escrever sobre isso. Mas, uma vez interpelado pelo Frazão, não posso deixar de dizer que acho os argumentos dele surpreendentemente fraquinhos. Que sem «c» em ação e sem «p» em perceção deixamos de saber abrir a vogal anterior? E «inflacionário», como o pronunciará o Frazão? Que, perdendo a referência à origem etimológica, ficamos com situações incongruentes, como «espectador» e «espetáculo»? Há quanto tempo escrevemos «quatro» e «catorze»? Parecendo que não, já se fizeram reformas ortográficas antes, incluindo coisas tão estranhas como a supressão dos acentos nos advérbios de modo – e, ainda assim, sabiamente, toda a gente consegue ler isto. Claro que esta reforma não é perfeita: se fosse a meu gosto, recolocava o trema em «agüentar» e «delinqüente» (que, no entanto, ninguém lê da mesma forma que «quente»). Por fim, o Frazão invoca «as árvores». Suponho que se refira a dicionários e gramáticas que precisam de ser revistos (o resto vai sendo adaptado, e há prazos para isso). Eu também me preocupo com as árvores. Por isso é que praticamente deixei de comprar o Público.