sexta-feira, junho 27, 2008
sexta-feira, junho 20, 2008
Diva à matiné
A jornalista Lara Logan é correspondente do canal de televisão CBS no Iraque e resolveu denunciar a cobertura que os media americanos fazem da guerra.
Só uma pergunta: há quantos anos o cinema não nos dá uma personagem de ficção que seja tão atraente como esta?
quarta-feira, junho 18, 2008
19 de Julho
Eu pagava o preço do bilhete só para ler este texto. (Obrigado ao Pedro Mexia.)
Tonight, in his suit and hat, he resembles a senior 1920s mobster, only with a guitar instead of a tommy gun.
When he and his similarly attired band open with the Italian-flavoured Dance Me to the End of Love, we could almost be at a mafia wedding. The hat is gracefully doffed to acknowledge applause.
Cohen's baritone has become deeper and more formidable over the years; the line in Tower of Song - "I was born with the gift of a golden voice" - prompts a wave of knowing laughter and applause. The golden voice now resembles a boulder rolling down a tunnel: something huge and elemental.
Older songs such as Suzanne lure him back to the upper limits of his range, but most of the material dates from after he discovered synthesizers and politics in the 80s.
The acrid, dystopian humour of The Future and First We Take Manhattan is as resonant now as it was 20 years ago, a reminder that the only people who dub Cohen depressing are those that don't get the jokes. He delivers plenty tonight, like a wry nightclub host.
"Please sit down," he says after one standing ovation. "It makes me nervous. I think you're going to leave."
(...) Seizing his magnificent Hallelujah back from Jeff Buckley, Rufus Wainwright and dozens more, he is possessed by the words, his eyes squeezed tight, his body trembling.
After three hours, the final encore is the aptly titled I Tried to Leave You. "Goodnight my darling/ I hope you're satisfied," Cohen rumbles with a wink. "Here's a man still working for your smile."
domingo, junho 15, 2008
Cenas de um casamento
[do Público de hoje]
A geração R vai ao altar15.06.2008, Paulo Moura
O Cabaret Maxime organizou a sua versão especial das noivas de Santo António. Na noite de sexta-feira, 13, o Cónego Lello realizou quatro casamentos. Eram todos a fingir?
Nenhum Governo tinha tido coragem para aumentar as propinas universitárias desde os anos 40. Mais ou menos na altura em que, na Praça da Alegria, em Lisboa, abriu o Cabaret Maxime, para ser frequentado por intelectuais e artistas, burgueses e até aristocratas.
Mas em Junho de 1992, transformado já o Maxime num prestigiado bar de alterne, o Parlamento aprovou a nova Lei das Propinas. De 1200 escudos, a taxa passaria a 200 contos, na euforia do cavaquismo tardio. Os estudantes revoltaram-se. Escreveram no traseiro "Não pagamos!" e baixaram as calças em frente à Assembleia da República. Baixaram também as expectativas que o país tinha colocado neles. Afinal, tinham 20 anos, eram os baby-boomers de Abril. E ninguém lhes tinha explicado o peso simbólico que carregavam nos ombros. Furioso, o director de um influente jornal chamou-lhes Geração Rasca. Mas fizeram manifestações e uma greve, um ministro caiu e a lei foi, não derrotada, mas suavizada.
O grupo que encabeçou a contestação estudava no Instituto Superior Técnico. Eram uns 20. Partilhavam gostos e ideias. Andavam sempre juntos. Desenvolveram a sua própria ideia de irreverência, muito diferente da dos pais. Gostavam dos Ena Pá 2000 e dos Irmãos Catita, de quem não perdiam nenhum concerto, fosse no Ritz Club, fosse no Paradise Garage. Quando Manuel João Vieira concorreu à Presidência da República sob a palavra de ordem "Só desisto se for eleito", apoiaram-no.
O grupo manteve-se unido, pelo menos nos jantares semanais, das sextas-feiras, mesmo depois de quase todos eles terem concluído os doutoramentos e se terem tornado docentes universitários. Luis Mota, o presidente da Associação de Estudantes do Técnico, tornou-se namorado de Rita Canário, também dirigente associativa. Ele tornar-se-ia professor de informática no ISCTE, ela de Física na FCT, da Universidade Nova. Os Irmãos Catita continuaram a ser a banda sonora das suas vidas.
Mas em Junho de 1992, transformado já o Maxime num prestigiado bar de alterne, o Parlamento aprovou a nova Lei das Propinas. De 1200 escudos, a taxa passaria a 200 contos, na euforia do cavaquismo tardio. Os estudantes revoltaram-se. Escreveram no traseiro "Não pagamos!" e baixaram as calças em frente à Assembleia da República. Baixaram também as expectativas que o país tinha colocado neles. Afinal, tinham 20 anos, eram os baby-boomers de Abril. E ninguém lhes tinha explicado o peso simbólico que carregavam nos ombros. Furioso, o director de um influente jornal chamou-lhes Geração Rasca. Mas fizeram manifestações e uma greve, um ministro caiu e a lei foi, não derrotada, mas suavizada.
O grupo que encabeçou a contestação estudava no Instituto Superior Técnico. Eram uns 20. Partilhavam gostos e ideias. Andavam sempre juntos. Desenvolveram a sua própria ideia de irreverência, muito diferente da dos pais. Gostavam dos Ena Pá 2000 e dos Irmãos Catita, de quem não perdiam nenhum concerto, fosse no Ritz Club, fosse no Paradise Garage. Quando Manuel João Vieira concorreu à Presidência da República sob a palavra de ordem "Só desisto se for eleito", apoiaram-no.
O grupo manteve-se unido, pelo menos nos jantares semanais, das sextas-feiras, mesmo depois de quase todos eles terem concluído os doutoramentos e se terem tornado docentes universitários. Luis Mota, o presidente da Associação de Estudantes do Técnico, tornou-se namorado de Rita Canário, também dirigente associativa. Ele tornar-se-ia professor de informática no ISCTE, ela de Física na FCT, da Universidade Nova. Os Irmãos Catita continuaram a ser a banda sonora das suas vidas.
O primeiro casal
Sexta-feira, 13 de Junho de 2008. O Santo António entra em palco e começa a dircursar, de sandálias e braços abertos. "Não vos inquieteis. Deveis, após os votos, fazer muitos filhos e fornicar muito nesta Terra", clama ele, enquanto o Padre Lelo se está a vertir para a cerimónia. "Fornicai, para que muitos filhos possam substituir esses chineses das lojas dos 300. Combatei a imigração candestina."
O Cabaret Maxime organizou a sua versão especial dos casamentos de Santo António. Depois da decadência e do encerramento, o Maxime reabriu em Janeiro de 2006, sob a gestão de Manuel João Vieira e o seu padrasto Bo Backstrom. Tornou-se o santuário permanente dos Irmãos Catita e dos Ena Pá 2000 e de todos os fãs que os acompanharam nas últimas duas décadas. Numa espécie de milagre de Lázaro pós-moderno, consegue ressuscitar artistas como José Cid ou Victor Espadinha, em espectáculos de lotação esgotada. Esquecemo-nos de que eles estavam esquecidos, graças ao grande ilusionista Lello Vilarinho, também conhecido como Lelo Marmelo, Lelo Universal, ou Cónego Lello.
É sob este avatar que Manuel João surge agora em palco, quer dizer, no altar, para celebrar os matrimónios. "Hoje, sexta-feira, 13, vamos casar aqui homens e mulheres, mulheres e mulheres, e mesmo outros que estão fora desse enquadramento económico-social", anuncia o sacerdote da Igreja de Todos os Santos e Mais Alguns.
"Com a bênção do verdadeiro Santo António, ides fazer um investimento no mercado de futuros. Porque é Deus que vos enlaça, como uma trepadeira amazónica."
Aproxima-se o primeiro casal, Isabel e Tiago. Palmas. "Em nome da Igreja de Todos os Santos e Mais Alguns, mais de 3000 santos que vivem em concubinato no Paraíso, em apartamentos duplex em condomínios fechados com vista para o mar..." recita o cónego. "Tiago, desejas profundamente e a sério unir o teu destino, para toda a eternidade, ou pelo menos durante algum tempo, até que a morte vos separe, ou alguma doença horrível que vos faça apodrecer como cadáveres num cemitério, casar com Isabel..."
Que irá ele responder? A expectativa é enorme. Isabel, 28 anos, assistente de recursos humanos, queria casar mesmo. Tiago, 24 anos, mecânico, não. Mas ela viu no telejornal o anúncio do Maxime e pensou que era a solução. Convenceu o namorado a participar na brincadeira. Só quando viu a família toda, a mãe da noiva, os padrinhos, trajados a rigor e reunidos no Maxime, é que ele percebeu que aquilo não era bem uma brincadeira. Pelo menos para a noiva, e respectiva família, não era. "Isto é a ver se ele se entusiasma", explicou ela. Mas o que conseguiu foi que ele ficasse zangado. Por isso ninguém sabe o que vai ele agora, na hora da verdade, responder.
Mas o noivo levanta os olhos para o cónego e diz: "Sim. Proclamo a minha fidelidade, em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo".
Isabel jura o mesmo e Lello abençoa-os: "Pronuncio-vos marido e mulher, até que qualquer coisa vos separe. Podem beijar-se e fazer outras coisas porcas".
Sexta-feira, 13 de Junho de 2008. O Santo António entra em palco e começa a dircursar, de sandálias e braços abertos. "Não vos inquieteis. Deveis, após os votos, fazer muitos filhos e fornicar muito nesta Terra", clama ele, enquanto o Padre Lelo se está a vertir para a cerimónia. "Fornicai, para que muitos filhos possam substituir esses chineses das lojas dos 300. Combatei a imigração candestina."
O Cabaret Maxime organizou a sua versão especial dos casamentos de Santo António. Depois da decadência e do encerramento, o Maxime reabriu em Janeiro de 2006, sob a gestão de Manuel João Vieira e o seu padrasto Bo Backstrom. Tornou-se o santuário permanente dos Irmãos Catita e dos Ena Pá 2000 e de todos os fãs que os acompanharam nas últimas duas décadas. Numa espécie de milagre de Lázaro pós-moderno, consegue ressuscitar artistas como José Cid ou Victor Espadinha, em espectáculos de lotação esgotada. Esquecemo-nos de que eles estavam esquecidos, graças ao grande ilusionista Lello Vilarinho, também conhecido como Lelo Marmelo, Lelo Universal, ou Cónego Lello.
É sob este avatar que Manuel João surge agora em palco, quer dizer, no altar, para celebrar os matrimónios. "Hoje, sexta-feira, 13, vamos casar aqui homens e mulheres, mulheres e mulheres, e mesmo outros que estão fora desse enquadramento económico-social", anuncia o sacerdote da Igreja de Todos os Santos e Mais Alguns.
"Com a bênção do verdadeiro Santo António, ides fazer um investimento no mercado de futuros. Porque é Deus que vos enlaça, como uma trepadeira amazónica."
Aproxima-se o primeiro casal, Isabel e Tiago. Palmas. "Em nome da Igreja de Todos os Santos e Mais Alguns, mais de 3000 santos que vivem em concubinato no Paraíso, em apartamentos duplex em condomínios fechados com vista para o mar..." recita o cónego. "Tiago, desejas profundamente e a sério unir o teu destino, para toda a eternidade, ou pelo menos durante algum tempo, até que a morte vos separe, ou alguma doença horrível que vos faça apodrecer como cadáveres num cemitério, casar com Isabel..."
Que irá ele responder? A expectativa é enorme. Isabel, 28 anos, assistente de recursos humanos, queria casar mesmo. Tiago, 24 anos, mecânico, não. Mas ela viu no telejornal o anúncio do Maxime e pensou que era a solução. Convenceu o namorado a participar na brincadeira. Só quando viu a família toda, a mãe da noiva, os padrinhos, trajados a rigor e reunidos no Maxime, é que ele percebeu que aquilo não era bem uma brincadeira. Pelo menos para a noiva, e respectiva família, não era. "Isto é a ver se ele se entusiasma", explicou ela. Mas o que conseguiu foi que ele ficasse zangado. Por isso ninguém sabe o que vai ele agora, na hora da verdade, responder.
Mas o noivo levanta os olhos para o cónego e diz: "Sim. Proclamo a minha fidelidade, em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo".
Isabel jura o mesmo e Lello abençoa-os: "Pronuncio-vos marido e mulher, até que qualquer coisa vos separe. Podem beijar-se e fazer outras coisas porcas".
O segundo casal
Catarina e Fernando, 35 e 37 anos, já vivem juntos há 6 e têm dois filhos. Mas não se sabe quem tem fugido mais do casamento, ele ou ela. De qualquer forma, é ele que inventa as desculpas esfarrapadas, como esta: "Da última vez que íamos casar, ela ficou grávida. E pronto, lá ficámos sem dinheiro outra vez". Ou esta: "Já tentei, mas não consegui. Meti os papéis na Conservatória, mas depois mudámos de residência... É difícil. Tentei várias vezes, mas não consegui".
Agora, parece que é de vez: vieram os padrinhos e 32 convidados, incluindo as famílias e o patrão da agência imobiliária em que ambos trabalham. E prometem que, para a semana, vão ao Registo Civil legalizar a união. Pelo menos foi o que disseram à mãe da noiva, Dona Rosalina, sentada, feliz, na primeira fila do Maxime.
"Desejas amar e ser fiel à tua mulher para o resto da tua vida, enquanto o mundo for mundo, até que o mundo estremeça e os vulcões alastrem sobre a Terra?", pergunta o Cónego Lello, e Fernando responde, com uma cerveja na mão: "É tudo o que eu mais quero na vida".
"E tu, Catarina, aceitas este homem, para a procriação, até que a morte, ou outro acontecimento mesquinho ou bizarro vos separe?"
"Aceito, mas procriar não quero mais, porque já temos uma menina..."
"Milagre! Milagre!", gritam em uníssono cónego, Santo António e Frei Tuck. "Ainda agora casaram e já nasceu uma menina! É milagre! Aleluia!" E pedem mais 200 mil euros para a Fundação Catita, num cheque que é assinado ali mesmo. "Praise de Lord!"
Catarina e Fernando, 35 e 37 anos, já vivem juntos há 6 e têm dois filhos. Mas não se sabe quem tem fugido mais do casamento, ele ou ela. De qualquer forma, é ele que inventa as desculpas esfarrapadas, como esta: "Da última vez que íamos casar, ela ficou grávida. E pronto, lá ficámos sem dinheiro outra vez". Ou esta: "Já tentei, mas não consegui. Meti os papéis na Conservatória, mas depois mudámos de residência... É difícil. Tentei várias vezes, mas não consegui".
Agora, parece que é de vez: vieram os padrinhos e 32 convidados, incluindo as famílias e o patrão da agência imobiliária em que ambos trabalham. E prometem que, para a semana, vão ao Registo Civil legalizar a união. Pelo menos foi o que disseram à mãe da noiva, Dona Rosalina, sentada, feliz, na primeira fila do Maxime.
"Desejas amar e ser fiel à tua mulher para o resto da tua vida, enquanto o mundo for mundo, até que o mundo estremeça e os vulcões alastrem sobre a Terra?", pergunta o Cónego Lello, e Fernando responde, com uma cerveja na mão: "É tudo o que eu mais quero na vida".
"E tu, Catarina, aceitas este homem, para a procriação, até que a morte, ou outro acontecimento mesquinho ou bizarro vos separe?"
"Aceito, mas procriar não quero mais, porque já temos uma menina..."
"Milagre! Milagre!", gritam em uníssono cónego, Santo António e Frei Tuck. "Ainda agora casaram e já nasceu uma menina! É milagre! Aleluia!" E pedem mais 200 mil euros para a Fundação Catita, num cheque que é assinado ali mesmo. "Praise de Lord!"
Finalmente Rita e Luís
A noite está em grande, o Cónego Lello rejubila. Rita e Luís avançam para o altar. "Aceitas esta mulher e toda a sua fecundidade em Jesus Cristo? Aceitas esta joint venture para o futuro?"
"Aceito e desejo-o", responde o doutor Luís, 35 anos, ex-dirigente associativo.
"E tu, desejas unir o teu destino ao deste homem devasso?", pergunta Lello à doutora Rita, que "nunca seria capaz de um casamento tradicional".
"Sim!"
"Se alguém conhece alguma objecção diga-o agora, ou cale-se para sempre, e seja comido no Inferno por ratos com cornos. Proclamo-vos doravante marido e mulher. Ide e multiplicai-vos."
Uma matulona semi-nua vem fazer lap-dancing. Realiza-se um casamento de última hora entre um homem e duas mulheres. Os Irmãos Catita começam o concerto. "Chupas e engoles, tocas gaita de foles, nas minhas partes moles", canta Lello Marmelo. Todos dançam. Até a Dona Rosalina, ao som de Cocaína na Vagina. Mas só até às 4 da manhã. E, desde que os vizinhos protestaram por causa do barulho, sem nunca ultrapassar a barreira dos 89 decibéis.
A noite está em grande, o Cónego Lello rejubila. Rita e Luís avançam para o altar. "Aceitas esta mulher e toda a sua fecundidade em Jesus Cristo? Aceitas esta joint venture para o futuro?"
"Aceito e desejo-o", responde o doutor Luís, 35 anos, ex-dirigente associativo.
"E tu, desejas unir o teu destino ao deste homem devasso?", pergunta Lello à doutora Rita, que "nunca seria capaz de um casamento tradicional".
"Sim!"
"Se alguém conhece alguma objecção diga-o agora, ou cale-se para sempre, e seja comido no Inferno por ratos com cornos. Proclamo-vos doravante marido e mulher. Ide e multiplicai-vos."
Uma matulona semi-nua vem fazer lap-dancing. Realiza-se um casamento de última hora entre um homem e duas mulheres. Os Irmãos Catita começam o concerto. "Chupas e engoles, tocas gaita de foles, nas minhas partes moles", canta Lello Marmelo. Todos dançam. Até a Dona Rosalina, ao som de Cocaína na Vagina. Mas só até às 4 da manhã. E, desde que os vizinhos protestaram por causa do barulho, sem nunca ultrapassar a barreira dos 89 decibéis.
sexta-feira, junho 13, 2008
Shyamalanesco
Não sei propriamente explicar. Tinham passado as primeiras imagens deste trailer, e eu nem sabia que havia um filme novo do Shyamalan, quando disse para o lado: «- Isto é o Shyamalan». E era: imediatamente a seguir apareceu o nome dele. Vi só alguns dos filmes: não gostei de Signs, menos ainda de Senhora da Água, impressionou-me muito O Protegido (Unbreakable). Mas suspeito agora que os meus likes & dislikes dizem mais sobre a minha disposição do momento do que sobre eles.
Há qualquer marca autoral muito forte, plano-por-plano, nas imagens de O Acontecimento; infelizmente, não sei explicar o que é. Claro que evoca Spielberg, não só pelo lugar das crianças, a narrativa infantil e reacionária (há uma verdade primordial a que se regressa e que as crianças intuem), e o facto de ser tudo muito e excessivamente explicado. Olho para aquilo e evoca Spielberg, mas é um Spielberg dos inícios, intenso e mais bem feito. Há qualquer coisa de muito americano nas cores de O Acontecimento, nessas imagens que sem saber porquê imediatamente atribuí a Shyamalan (haverá também qualquer coisa de indiano? É que falo em cores). Há rigor, há detalhe, na maneira de filmar cada plano: gostei da imagem de uma velha subtilmente filmada através de um mosquiteiro, a quadrícula pequenina dando uma vaga sugestão de pintura impressionista. Encontrei ecos de Signs, encontrei todas as marcas de cinema que não é do meu género, mas deixei-me interessar pelo filme. Shyamalan é um autor e há qualquer coisa de forte e Shyamalanesco.
Há qualquer marca autoral muito forte, plano-por-plano, nas imagens de O Acontecimento; infelizmente, não sei explicar o que é. Claro que evoca Spielberg, não só pelo lugar das crianças, a narrativa infantil e reacionária (há uma verdade primordial a que se regressa e que as crianças intuem), e o facto de ser tudo muito e excessivamente explicado. Olho para aquilo e evoca Spielberg, mas é um Spielberg dos inícios, intenso e mais bem feito. Há qualquer coisa de muito americano nas cores de O Acontecimento, nessas imagens que sem saber porquê imediatamente atribuí a Shyamalan (haverá também qualquer coisa de indiano? É que falo em cores). Há rigor, há detalhe, na maneira de filmar cada plano: gostei da imagem de uma velha subtilmente filmada através de um mosquiteiro, a quadrícula pequenina dando uma vaga sugestão de pintura impressionista. Encontrei ecos de Signs, encontrei todas as marcas de cinema que não é do meu género, mas deixei-me interessar pelo filme. Shyamalan é um autor e há qualquer coisa de forte e Shyamalanesco.
quarta-feira, junho 11, 2008
Le Sporting, club d’esthètes lisboètes
Há um abismo moral que separa o Sporting do Benfica: o benfiquista é um sujeito que, em miúdo, escolheu ser «dos que ganham» e ficar com a multidão. E, no futebol, a moralidade é a estética, como comprova este artigo do Libération publicado hoje:
Le gamin du Sporting est gâté : en ces temps de bloc équipe et d’impact physique, ici ce qui compte, c’est le talent brut. Au Sporting, c’est historique, on fabrique du cousu-pied
sexta-feira, junho 06, 2008
Nacional-cançonetismo (nova esquerda remix)
«Foi o renascer da esperança, da alegria, das canções cantadas em comum. Portugal precisa de mais esquerda.»
[Manuel Alegre, numa genial entrevista feita a seguir ao comício de terça e publicada ontem no Público.]
[Manuel Alegre, numa genial entrevista feita a seguir ao comício de terça e publicada ontem no Público.]
Otimismo histórico
Nos começos do século, Portugal era governado pelo Partido Socialista sob orientação de José Sócrates, Manuel Alegre liderava um comício do Bloco, que era criticado pela restante oposição de esquerda, o PCP, pelas vozes de Jerónimo de Sousa e de José Saramago.
A política, XXI não tem obviamente nada a ver com a Política XXI, honra lhe seja feita.
quarta-feira, junho 04, 2008
Um weberianismo da treta
Tem havido um ar de presciência, ou até de omnisciência, na retórica dos bloggers portugueses de inclinação clintonista. Obama é minimizado, e os seus apoiantes tratados com condescendência: nada justifica a popularidade do candidato negro à nomeação democrata a não ser uma aura mística pessoal; o apoio a Obama tem um nome – Obamania – e logo por aí se vê que é um fenómeno do domínio do irracional; o candidato não seria portanto politicamente confiável. Não me lembro de uma única pessoa ponderada que tenha declarado simpatia por Obama. O apoio à candidatura – abertamente não-glamourosa – de Hillary Clinton não é só a opção mais sensata; é a opção dos sages, que vez por outra abrem um pouco a cortina dos seus oráculos e nos dizem aquilo que vai acontecer.
Neste contexto, é pelo menos irónico contemplar a forma como Hillary Clinton tem politicamente conduzido o estertor da sua campanha. Como reagiu ontem à noite em Nova Iorque, quando Barack Obama conseguiu o número necessário de delegados à Convenção democrata? "This has been a long campaign. And I will be making no decisions tonight. But this has always been your campaign. So, to the 18 million people who voted for me, and to our many other supporters out there of all ages: I want to hear from you. I hope you’ll go to my website at hillaryclinton.com and share your thoughts with me and help in any way that you can, and in the coming days I'll be consulting with supporters and party leaders to determine how to move forward..."
É ver para crer, e julgar da racionalidade, fiabilidade e sentido de responsabilidade da candidata dos sábios.
Neste contexto, é pelo menos irónico contemplar a forma como Hillary Clinton tem politicamente conduzido o estertor da sua campanha. Como reagiu ontem à noite em Nova Iorque, quando Barack Obama conseguiu o número necessário de delegados à Convenção democrata? "This has been a long campaign. And I will be making no decisions tonight. But this has always been your campaign. So, to the 18 million people who voted for me, and to our many other supporters out there of all ages: I want to hear from you. I hope you’ll go to my website at hillaryclinton.com and share your thoughts with me and help in any way that you can, and in the coming days I'll be consulting with supporters and party leaders to determine how to move forward..."
É ver para crer, e julgar da racionalidade, fiabilidade e sentido de responsabilidade da candidata dos sábios.
terça-feira, junho 03, 2008
A língua é nossa
Em termos de petições de defesa da língua, há uma de que sinto especial falta: para que se incluam autores brasileiros (e talvez africanos) no currículo das escolas secundárias portuguesas, da mesma forma que no Brasil se ensinam Eça, Pessoa, Camilo. Isto sempre me envergonha perante amigos brasileiros: se a língua é nossa, por que raio a conhecemos pior do que eles?
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