quinta-feira, agosto 02, 2007

Bergman (2)


Foto AFP, publicada no International Herald Tribune

Deve ser extraordinariamente difícil escrever um bom obituário de Bergman. Li duas mãos-cheias, e as pequenas histórias revelam de menos, os detalhes são um tanto banais, e dois ou três adjectivos têm dificuldade em sintetizar um filme. Comecei por encarar com cepticismo o obituário do Economist (hoje online), que opta por um tom diferente, quase em espelho relativamente ao tom de Bergman. But it grows on you. Gostei deste parágrafo e resolvi traduzi-lo.

«No Inverno sueco, não havia sol. Uma luz cinzenta e baça surgia das nuvens, sem criar quaisquer sombras. As mudanças subtis de luz extasiavam Bergman, que decidiu que o filme inteiro devia ser iluminado assim. A luz forte, pelo contrário, era a dos seus pesadelos. Nos filmes, um súbito clarão pálido – de uma luz nua, de uma rua vazia – marcava habitualmente a entrada na psicose. (…) Bergman precisava de nuvens, de árvores e de cortinas de rede a velar a luz, a suavizá-la e a fazê-la mexer-se. Precisava de que a luz mudasse pouco e devagar: cintilando e desaparecendo num candeeiro de petróleo, ou escurecendo com extraordinária lentidão sobre um rosto (como escurecia sobre a cara de Liv Ullmann em Persona) até ficar apenas uma silhueta.» [continua.]